7 de set. de 2008

safra rara

RELAX

Aquele monstro que se chamou Champollion descansava de seus estudos de egiptologia escrevendo uma gramática chinesa.
Porém nós outros, os relativamente normais, que haveremos de fazer?
Palavras cruzadas?
No entanto, o perigo das palavras cruzadas é nos inocularem às vezes, para todo o sempre, os mais estapafúrdios conhecimentos. Por exemplo, há duas semanas sou sabedor de que "rajaputro" significa "nobre do Hindustão, dedicado à milícia". Espero, o quanto antes, esquecer tal barbaridade.
O que importa é substituir as preocupações pela ocupação.
Quanto ao exercício da poesia, nem falar! Qualquer poeta sabe como dói, mas como é preciso virar a alma pelo avesso para fazer um verdadeiro poema - salvo se você for um poeta concretista, porque, na verdade, não há nada mais abstrato que um poema concreto.
Pois bem, falando em coisas sérias, o problema, seu poeta, é ocupar o espírito sem ao mesmo tempo estraçalhá-lo.
E problemas assim - puros problemas - só mesmo os problemas matemáticos. Já o velho Pinel recomendava o estudo das ciências exatas como preservativo dos distúrbios mentais.
A matemática é o pensamento sem dor.
Mas infelizmente sucede que a matemática ainda é pior do que chinês para nós, que, nesta altura da vida, só não esquecemos as quatro operações e, quando muito, a regra de três e também a teoria dos arranjos, permutações e combinações - tão útil no jogo do bicho.
Que resta, então?
Oh! como é que não me lembrei disso antes?! Resta-nos uma passatempo esquecido: o delicioso vício da leitura.

por mário quintana publicado na Folha de S. Paulo em 01/05/77

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